PAREI DE SONHAR

Blecaute. Amanheceu. Cortinas cerradas. Motor desligado. Fim de show. Créditos finais.

O sonho acabou!

Com os olhos em alerta, a mente cismada e a turbulência dos dias, aqueles minutos dispersos deixaram de existir. Não tem sido possível, portanto, voar suspenso em balões e nem ter uma imagem mental toda azul, quase azul da cor do mar. A visão das estrelas ficou manchada, a porta permaneceu entreaberta, com ímpetos de bater com o vento e trancar-se por conta própria, o meu grande pequeno universo se encolheu muito além do que se enxergaria, pois a partir daquele dia eu não fui mais capaz de sonhar.

Talvez haja o tempo de parar de devanear e partir. Talvez o trabalho seja um tanto ostensivo, seja grande, pequeno, rico ou pobre o sonho, tanto faz. Talvez o que a vida peça é para ser vivida e o que ela tema é ser sonhada, a ponto de perder as rédeas e sonho se tornar desvario. “Quem sabe a vida é não sonhar?”.

De toda forma, essa parada súbita não foi predefinida. Nem garanto que tenha sido assim, com uma interrupção tão brusca. Mas é fato que o fim das fantasias não levou ao início das realizações, “sonho” não mudou de nome para virar “objetivo”, não deixei de carregar comigo uma mala a menos para poder tornar o trajeto mais leve, a dança mais solta e adentrar a pista como quem se joga na vida. Eu somente parei.

A noite esvaziou e o dia emaranhou; Sol entrou sorrateiro, só em reflexo, carro se arrastou, música nem tocou mais e o filme perdeu o looping infinito. A hora correu tão apressada que o tempo quase não se encontrou, mas se afastou ao máximo, fazendo com que algo colabasse aqui dentro bem no instante em que adormeci para os meus delírios (delírios com nexo, delírios sem nexo).

Gostam de dizer nas canções e poesias e nos discursos motivacionais das vidas sociais que sonho não morre, que você ainda pode sonhar, que sonhos não envelhecem, que nunca se pode desistir de sonhar, que o sonho não acabou e por aí vai…

Contudo eu me cansei de sonhar.

Não sei se é a solidão, o cansaço ou a gota de álcool correndo nas veias, mas algo vem me beliscando ao longo da semana clamando a dúvida que agora aqui lanço:

E dá para reaprender a sonhar?

 (A quem possa interessar, fica o convite: pode me ensinar como?)

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