Ninguém solta a mão…

“O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.”
(Drummond)

Não sou nenhuma Clarice, mas peço permissão, por meio dessas linhas, para que me empreste sua mão.

Não peço muito, só que ampare a minha mão por alguns minutos, em algumas noites dilatadas e frias como essa, em que a gente não sabe muito bem o que dizer, e quando termina por se revelar, perde o freio para calar…

Venha comigo, mão sobre a minha, atreladas em concordância, que a gente nem precisa seguir o mesmo caminho se olharmos para o mesmo cume, o mesmo plano, o mesmo fim. Só que, à medida que sentir que não nos desprenderemos tão cedo (hora é cedo, hora é agora), olhe também os meus olhos e anseie junto a eles pela primavera.

De mãos escoradas, é muito mais viável erguer-se.

Venha e pule os muros que nos separam, encare o diferente junto a mim. É seu também esse medo que carrego, são suas essas chagas sem prazo para cicatrizar, sua vontade se une a minha e fica mais fácil acreditar.

Acreditar…não sei bem em quê. Pode me ensinar, se nossas mãos estiverem bem apoiadas uma na outra?

Sei que também perdeu, que também algo ficou esquecido dentro de si; que seu tempo ficou para trás, que suas crenças já não lhe servem mais e que seu corpo parou com receio de se desequilibrar novamente e sem rumo, sem controle do depois.

Então pegue a minha mão, vamos juntos. Só peço que não me detenha, se tiver a intenção de largá-la em breve, pois com urgência já vivi e agora quero calma, passo lento, mal sei onde chegar.

Se carrega o perdão, então segure firme minha mão.

Se a alma se guia de tolerância, por favor, não afrouxe sua mão.

Se seu abraço faz da tristeza um choro manso em partida, preciso que se mantenha.

Só o tempo não carregaremos conosco, esse escorre, mas também nos atiça; iremos atrás dele, não para recuperá-lo, mas para jamais perdê-lo de vista.

Segure a vida em nossas mãos, segure amor em cada mão; já que vida morre, eu sei, mas amor, juro por cada dedo, esse não.

5 comentários sobre “Ninguém solta a mão…

Deixe um comentário